sábado, 3 de dezembro de 2011

Bate e volta

Led Zeplin berrou aos meus ouvidos às cinco horas da matina e o visor do rádio relógio informou que já estava na hora. Amaldiçoei a pessoa que agendou meu vôo tão cedo, tomei um banho rápido, me vesti e tive que escolher entre comer alguma coisa ou me maquiar. Passei duas camadas de rímel nos olhos e o interfone tocou. Peguei a mala, o casaco, a bolsa e o livro. Soltei tudo quando notei a falta das chaves. Ouvi o telefone tocar em algum lugar do apartamento, esqueci as chaves e fui em busca do telefone que estava dentro do guarda-roupa - como ele foi parar ali? Era a moça da central de taxi para avisar que o carro se encontrava no local. Obrigada, eu já percebi. Peguei as chaves, a mala, o casaco, a bolsa e o livro, tranquei a porta e o celular apitou. Olhei para a bolsa que vibrava sem parar e tudo mais que carregava nas mãos, ignorei a mensagem - do taxista inquieto - e me equilibrei no salto alto pela escada abaixo. 

Cheguei ao portão de embarque ao som daquela voz erótica e repetitiva que alertava sobre a última chamada e relaxei quando o avião decolou comigo dentro.
No quarto do hotel em Camboriú tive dúvida se agradecia ao moço educado que quase desfez a mala para mim, ou se me desculpava por não ter gorjeta, nem pra ele, nem pra mim. Sorri amarelo e quase ofereci o chocolate que avistei ao lado da cama.
Passei a manhã decidindo se iria para a feira com ou sem meia-calça, duvidando do clima tempo e desejando minha mãe para esclarecer de uma vez por todas se iria esfriar. Então reparei que a probabilidade de eu esquecer o shampoo que paguei uma fortuna seria bem menor do que esquecer a pasta de dente que nem me lembro a marca. Mas os hotéis não pensam assim. Cheguei a essa conclusão com a escova de dente em uma mão e o vidrinho de condicionador do hotel na outra. Saí sem as meias e com bafo. 

Depois da feira fui jantar com o pessoal do trabalho. Algumas doses de vodka, sushi e bate papo renderam a noite. De volta ao hotel, nem bem fechei os olhos e já era hora de partir, juntei minhas tralhas e corri para o aeroporto.
O avião decolou e meu estômago revirou. Aquela vodka foi mesmo inesquecível. De volta à São Paulo, parei em frente meu prédio cansada, enjoada e segurando a mala, o casaco e a bolsa – o livro estava guardado, devido minha incapacidade de ler naquele estado. E as chaves? Larguei tudo no chão e abri a mala para procurar. Acomodei tudo de volta em meus braços e subi as escadas quase rastejando ainda de salto alto e as duas camadas de rímel. 
E pensar que com toda essa correria, não usei nada da mala e estava de volta com a mesma roupa e o chiclete que comprei no caminho. Escovei os dentes, tomei banho e dormi.

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