sexta-feira, 21 de outubro de 2011

The Dreamers

França, Maio de 1968. Henri Langlois é demitido da direção da Cinemateca Francesa pelo escritor André Malraux, Ministro da Cultura do presidente Charles De Gaulle. A Cinemateca é fechada, causa revolta nas ruas de Paris e inicia-se um movimento que transformou os valores e costumes tradicionais da sociedade. Este é o cenário de The Dreamers (Os Sonhadores, 2003), filme de Bernardo Bertolucci, com roteiro de Gilbert Adair e breve participação dos atores Jean-Pierre Kalfon e Jean-Pierre Léaud, que interpretam a si mesmos durante o protesto em frente à Cinemateca, a repetir o ato de leitura do manifesto assinado por Jean-Luc Godard.

E para falar de educação, sexualidade e prazer, pontos abordados na revolução, Bertolucci utilizou uma metáfora, um conflito cultural entre dois jovens franceses, com estrutura familiar fraca e sem responsabilidade; e um estudante americano, bem comportado e obediente aos pais. Os gêmeos franceses Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel), e o americano Matthew (Michael Pitt) alienam-se no apartamento parisiense e vivem uma utopia ao som de Joplin, Doors, Dylan, Hendrix, Piaf, entre outros ícones da época.

Eva Green está fascinante. Acorrentada à grade da Cinemateca, a garota de beleza blasé atordoa de tão bela. Bertolucci já esperava por isso e aproveitou o corpo escultural da atriz em diversas cenas de nudez.

Entre os irmãos, uma intimidade provocante. Eles se entrelaçam nus e seduzem o forasteiro para uma rotina de jogos sexuais e discussões como Keaton or Chaplin na cama, na banheira ou numa tenda de lençóis. O relacionamento entre Isabelle e Theo é intenso, co-dependente e um tanto incestuoso para Matthew, que é aceito pela dupla quando, juntos, atravessam o Louvre correndo, batem o recorde dos personagens de Band à Part (1964, de Jean-Luc Godard), e Matthew é reconhecido como one of us, em referência ao filme Freaks (1932, de Tod Browning).

The Dreamers abusa da função metalingüística – cinema que fala de cinema – e faz menção inúmeras vezes a filmes antigos com cenas reencenadas pelos cinéfilos e editadas às cenas originais em perfeita montagem, estratégia de Bertolucci para homenagear a cinematografia mundial sem ser cansativo. O filme explora o cinema clássico, o rock psicodélico e o sexo lúdico. Só assista se gostar desses três elementos. E prepare-se para repetir a dose. É irresistível.